Uma análise de Daniel Plainview

Imagem: divulgação.
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Olá, pessoal!

Como vocês pediram, está aí mais um personagem analisado na antiga coluna R-Files. Já trouxe aqui no blog a agente do FBI Clarice Starling e o Dr. Brown, da trilogia De Volta para o Futuro.

Leia aqui a análise de Clarice Starling. | Leia aqui a análise de Doc Brown.

Os textos foram publicados em 2009 para o Portal Cinema com Rapadura. Até comentei aqui no blog quando esta análise foi originalmente postada. Leia aqui. Na época, eu mantinha uma coluna em que os personagens eram dissecados. Sempre gostei de fazer essas observações sobre as pessoas que compõe as narrativas. Continuo fazendo isso sempre que posso durante as pesquisas das graduações de jornalismo e produção editorial.

O texto era acompanhado por uma cartinha no estilo Super Trunfo. Era muito, muito, muito legal. 😀

Espero que gostem. Se quiserem, enviem dicas de personagens e eu vou analisar. Sinto muita saudade dessa coluna. Boa leitura. 😀

Imagem: divulgação.
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#02 R-Files – Daniel Plainview

O personagem escolhido para esta quinzena foi sugerido pelos leitores: Leandro, Daniel e Rodrigo Herder. Obrigada e continuem sugerindo nomes, o seu personagem preferido pode aparecer aqui.

“Garanto, senhoras e senhores, não importa o que os outros prometam fazer, na hora da comparação não irão me superar.”

Daniel Plainview, em “Sangue Negro” (There Will Be Blood – 2007).

Aviso: o texto abaixo contém revelações (spoilers) sobre o enredo do filme em que o personagem participa.

DANIEL PLAINVIEW

Dotado de poderosa inteligência emocional e um vasto império de petróleo, Daniel Plainview é o retrato do empresário capitalista. Líder nato, ele usa de suas capacidades para obter o que quer (de modo lícito ou ilícito). Toda competitividade que ele emprega no trabalho é refletida nas relações pessoais e acaba dificultando seu relacionamento mesmo com os mais próximos, resultando em um distanciamento cada vez maior da sociedade. Mesmo tendo tudo que materialmente almejava, Daniel sente falta de algo que não se compra e não se encontra facilmente. Plainview é o triste retrato de um herói desconstruído.

Imagem: divulgação.
Imagem: divulgação.

A HISTÓRIA

Como não tinha um bom relacionamento com o pai, Plainview deixou sua casa em Fond du Lac, em Wisconsin, para explorar minérios no Kansas. Após trabalhar um tempo em uma mina de prata sozinho, Plainview começou a explorar petróleo em torno de 1902. No poço em que estava perfurando, um colega e pai solteiro morreu em um acidente e Plainview adotou seu bebê, chamado HW.

Passado alguns anos, HW já era uma criança e Daniel um empresário em ascendência. Seguindo a dica do desconhecido Paul Sunday, Daniel iniciou um grande projeto de extração de petróleo em uma cidadezinha chamada Little Boston. O irmão gêmeo de Paul, Eli, exigiu dinheiro a Daniel para a construção de sua Igreja, em troca do rancho dos Sunday. Plainview prometeu que ia pagar, mas não cumpriu a promessa.

Um acidente com gás em um dos poços afetou HW, que acabou ficando surdo. Desestabilizado, no momento em que Eli abordou-o agressivamente cobrando a sua dívida, Daniel espancou o pastor.

Plainview foi surpreendido quando Henry Brands apareceu dizendo ser seu meio irmão. Mesmo sendo desconfiado, depois de conferir algumas provas, Daniel se convenceu da autenticidade de Henry e o acolheu em sua casa. Na tentativa de chamar a atenção do pai, HW tentou incendiar a cama de Henry. Daniel despachou, envergonhado, HW para uma escola de surdos.

As terras de William Bandy, únicas que ainda não haviam sido compradas na região, eram indispensáveis e Daniel e Henry foram conversar com o proprietário a fim de comprá-las. Durante a viagem, Plainview relembrou fatos da infância com o irmão e descobriu que ele é um impostor que conheceu o irmão de Daniel e usou sua identidade depois de ele ter morrido de tuberculose.

No local onde estavam acampados, Plainview matou e enterrou o farsante. Ele foi chantageado por Willian Bandy, que deduziu o que aconteceu na noite anterior. Em troca de suas terras e seu silêncio, Bandy exigiu que Daniel fosse batizado na Igreja da Terceira Revelação pelo pastor Eli.

HW voltou do internato sabendo se comunicar através da linguagem de sinais com o seu professor. Eli foi embora fazer missões pelo país. Daniel ficou cada vez mais poderoso, rico e desequilibrado. HW casou-se com Mary Sunday, sem a presença do pai.

O tempo passou e Daniel vivia em uma bela mansão. O filho disse que ia para o México com a esposa e lá iniciaria sua própria empresa petrolífera. Durante a conversa, Plainview usou toda sua maldade e cinismo para maltratar e dispensar o filho, a quem chamou de bastardo.

Eli foi ao encontro de Plainview querendo dinheiro para se recuperar da Crise de 29. Uma série de humilhações foi proferida por Plainview que também agrediu fisicamente Eli. O pastor morreu. Seu mordomo foi até a sala onde os dois estavam e perguntou se estava tudo bem. Plainview ambiguamente respondeu: “Eu terminei”.

O FILME

O próprio diretor de “Sangue Negro”, Paul Thomas Anderson, foi quem adaptou a obra “Oil!” (1927) de Upton Sinclair para as telonas. Ao escrever o personagem Vern Roscoe, Sinclair se baseou no milionário irlandês Edward Laurence Doheny, que viveu entre 1856 e 1935. Daniel Day-Lewis foi responsável por dar vida a Daniel Plainview e o fez brilhantemente, pois o ator tem a sensibilidade necessária para demonstrar todas as nuances de Plainview sem parecer forçado. Mereceu todos os prêmios que conquistou pelo papel, inclusive o Oscar de Melhor Ator.

O filme é praticamente todo focado apenas na trajetória pessoal desse personagem. É como se tudo: iluminação, cenários, edição fosse combinado para fomentar sua personalidade. Quando conseguimos desgrudar os olhos de Plainview, podemos perceber outros grandes personagens, ter uma idéia de como era a vida nos poços de petróleo no início do século XX e como Doheny e outros empresários da época usavam o poder.

Os mais de 10 minutos de silêncio do início do filme já nos advertem que o que vem por aí não vai ser facilmente digerido. A aridez desértica, a lama e o petróleo ambientam o clima obscuro vivido por aqueles exploradores. A pesada trilha sonora, composta por Jonny Greenwood, da banda Radiohead, acentua o tom claustrofóbico e parece vir direto da mente de Plainview, traduzindo sua confusão interior.

Se você não for conquistado por “Sangue Negro” nesses primeiro minutos, vai ser difícil gostar. O ritmo lento é alternado por cenas de nenhum diálogo com cenas de conversas memoráveis, sem grandes reviravoltas. O filme é, acima de tudo, uma descoberta sobre a tomada da loucura em um ser humano, e isso acontece aos poucos. É necessário saber saborear cada nova pequena descoberta.

O PERSONAGEM

Pode-se dizer que Daniel Plainview (Daniel Day-Lewis) é um herói épico. Ele não tem grandes tropas para guerrear, mas, sim, uma grande batalha interna. A transformação pela qual ele passa ao longo do filme é perfeitamente bem construída, sendo sutil e impressionantemente real. De início, nascemos com o personagem das profundezas de uma mina, ficamos encantados com a sua determinação, força e até sua ambição é um tanto quanto charmosa.

Conforme seu poder vai sendo consolidado, acontecimentos além do controle de Plainview acabam maculando sua solidez de líder. Um de seus desafiantes, Eli Sunday (Paul Dano), o etéreo pastor, se revela aos olhos do espectador como um charlatão que gosta tanto de dinheiro e de poder quanto Plainview. Um verdadeiro duelo de religião versus dinheiro. Plainview acredita reconhecer o mal nas pessoas e ele enxerga o de Eli: egoísta, ganancioso, vaidoso, covarde, invejoso. Daniel pode ter seus pecados, mas ele não quer ser absolvido. Daniel não aceita nem que Deus seja superior a ele.

Daniel cede às exigências de Willian Bandy (Colton Woodward) e suporta as humilhações e a vingança de Eli, na cena em que é batizado, porque ele sabe que vai ganhar muito com isso. Ele nem se importa com o que as pessoas na Igreja poderão pensar, pois elas são só instrumentos para os fins que ele deseja. Aliás, todas as pessoas são desnecessárias a ele, como o próprio afirma.

Imagem: divulgação.
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A importância das pessoas é medida de acordo com o que ele ganha com elas. Essa máxima se estende aos laços afetivos também. HW (Dillon Freasier), seu filho adotivo, em uma visão superficial, serve como instrumento para sensibilizar as pessoas nas negociações de Daniel e, futuramente, como seu sucessor. Aprofundando a análise, HW é o discípulo perfeito por se interessar no trabalho do pai e demonstrar sinais de querer trilhar o mesmo caminho. No entanto, HW não possui a essência do pai, que Plainview julga, posteriormente, existir no suposto meio irmão Henry Brands (Kevin J. O’Connor).

Uma prova disso é o casamento de HW com Mary Sunday (Sydney McCallister), passo inicial para a formação de uma família. Plainview nem ao menos se interessa por alguma mulher ao longo da história, parecendo não querer construir laços afetivos. Tanto que a relação com HW é rompida agressivamente. HW não serve mais para ele, pois quer construir sua própria vida e não continuar a do pai. O que deixa Daniel irado, porque os “negócios da família” não serão continuados.

Uma outra contradição da relação dos dois é que Daniel defende o filho perante os empresários da Standard Oil, mas não procura aprender a se comunicar com ele. Isso tanto pode significar que ele é mesmo um homem rude demais para se preocupar com isso ou então ele só quer manter as aparências. Daniel realmente ama HW, mas de um modo bem peculiar.

Por terem um laço de sangue, Daniel projeta a esperança de encontrar a essência parecida com a dele no meio irmão. Pela frustração com a doença de HW, ele precisa de um outro acompanhante e confia o cargo a Henry. Isso é definitivo para a mudança de Plainview e a sua derrocada. É nessa parte que ele revela ser um personagem digno de um estudo mais aprofundado, pois ele compartilha seus sentimentos íntimos com Henry em um diálogo muito revelador sobre o seu caráter. Por essa conversa, é possível prever que Henry será assassinado por Plainview devido ao tamanho da decepção de não ter mais o irmão verdadeiro. Após matar Henry, Daniel lê o diário do irmão legítimo e chora por saber que ele está morto sem o ter conhecido.

Ao mesmo tempo em que parece louco, Plainview toma algumas atitudes louváveis como na festa de inauguração do poço, quando Daniel ameaçou Abel Sunday (David Willis), pois soube por HW que Mary sofria espancamentos por parte do pai. Em homenagem a menina, Daniel usou seu nome para batizar o poço. Uma clara demonstração de afeto pelas crianças.

O petróleo é mais um dos grandes símbolos da história. Plainview, por vezes, está sujo com o líquido, como se ele fosse feito dele. O petróleo move Plainview e move o mundo. Mortes? É só parte do percurso. No acidente com gás que afetou HW, Daniel parecia estar hipnotizado pela fúria da natureza. Enquanto os funcionários corriam desesperados, Plainview ria, com uma felicidade gananciosa, pois sabia que estava sob um mar de petróleo.

A solidão parece ser o destino de Daniel Plainview e ele não fez questão nenhuma de mudá-lo. O final do personagem é uma representação de que o dinheiro não supre todas as carências de alguém, pois ele concretiza seu sonho de se afastar de todos e se isola em sua enorme mansão, mas seus dias são dedicados à melancolia e a bebida. Ele sente uma constante falta de algo, que não é o dinheiro, e compete com tudo e todos para suprir essa necessidade. O problema de Daniel foi não ter reconhecido um sentimento instintivo dos humanos, que é o mesmo de todas as pessoas do mundo (inclusive as mais competidoras): amar e ser amado. Por vezes comparado com Charles Foster Kane (Orson Welles, em “Cidadão Kane”), Daniel também precisa de sua “Rosebud”. No caso dele, uma família.

Imagem: Rodrigo Oliveira.
Imagem: Rodrigo Oliveira.

OBS: A numeração no canto superior da cartinha refere-se a classificação do personagem de acordo com as categorias: (No personagem de hoje, a identificação da cartinha é B1)

A – Mulheres em filmes live-action;

B – Homens em filmes live-action;

C – Homens ou mulheres em animação 3D ou desenho animado;

D – Crianças e adolescentes (até 18 anos aproximadamente) de qualquer sexo, em qualquer meio;

E – Animais (inclusive insetos e aracnídeos) em filmes live-action, animação 3D ou desenho animado;

F – Monstros, fantasmas, extraterrestres e robôs em qualquer meio;

G – Objetos, plantas, partes do corpo, seres encantados, seres fantásticos, localidades, comidas, bactérias, vírus e demais seres não especificados e que não se encaixam em outras categorias.

Uma análise de Clarice Starling

Olá, pessoal! 🙂

Para comemorar o post 50 e o primeiro de 2015, trago a análise de uma das minhas personagens favoritas. Sim, ela mesma. Clarice Starling, a agente do FBI que tem uma relação de quid pro quo com o Hannibal, o canibal.

Fiz a análise em 2009 para o Portal Cinema com Rapadura. Até comentei aqui no blog quando esta análise foi originalmente postada. Leia aqui. Na época, eu mantinha uma coluna em que os personagens eram dissecados. Sempre gostei de fazer essas observações sobre as pessoas que compõe as narrativas. Continuo fazendo isso sempre que posso durante as pesquisas das graduações de jornalismo e produção editorial.

O texto era acompanhado por uma cartinha no estilo Super Trunfo. Era muito, muito, muito legal. 😀

Já postei outra análise aqui no blog sobre o Dr. Brown, da trilogia De Volta para o Futuro. Leia aqui.

Espero que gostem. Se quiserem, enviem dicas de personagens e eu vou analisar. Sinto muita saudade dessa coluna. Boa leitura. 😀

Créditos: Rodrigo Oliveira.
Créditos: Rodrigo Oliveira.

“Sabe aquele personagem? Daquele filme? Aquele que o cabelo era meio assim… Tinha uma roupa preta… Como é mesmo o nome? É um dos meus preferidos, sabe?”

A Coluna R-Files remexeu os empoeirados arquivos do Cinema com Rapadura para relembrar os personagens mais marcantes e os não tão lembrados da história do cinema. De lambuja, as cartinhas R-Files são uma ótima maneira de colecionar os seus preferidos e jogar.

O R-Files (Rapadura Files ou Arquivos do Rapadura em bom português) não poderia iniciar com alguém diferente. Clarice Starling é uma das personagens que eu mais gosto entre tantos da sétima arte. Se você, como eu, tem um personagem que ama muito, se identifica ou admira, compartilhe, dê dicas de nomes para o próximo R-Files. Críticas são muito bem vindas.  Afinal, eu posso até ser quem escreve, mas as estrelas são eles, os personagens. E vocês, leitores, são quem vai indicar o próximo a estrelar a coluna.

A personagem

A Agente do FBI Clarice Starling ficou mais conhecida por sua conexão com o serial killer Hannibal Lecter. A firmeza de caráter e a vulnerabilidade da policial atraíram a mente perturbada do ex-psiquiatra. A relação entre esses protagonistas é extremamente dicotômica, assim como eles próprios: ela é corajosa e assustada, ele é refinado e canibal.

A história (Aviso: o texto abaixo contém revelações sobre o enredo dos filmes em que a personagem participa).

A pequena Clarice conviveu desde cedo com a morte e o crime. A mãe morreu quando ela era muito nova e seu pai, que era policial, faleceu em um confronto com bandidos. Órfã, ela foi morar com o primo da mãe e a esposa dele em um rancho, mas não por muito tempo. Na tentativa de salvar os carneiros que gritavam, pois seriam mortos, Clarice fugiu com um deles no meio da noite. O fazendeiro ficou irado e despachou a garota para um orfanato.

O tempo passou e Clarice tornou-se trainee do FBI. Subestimada por ser mulher, bonita, e de origens humildes, Clarice precisou de muita garra para provar que mereceu a vaga no FBI. Como uma de suas primeiras tarefas, seu mentor, John Crawford, pede que ela se encontre com Hannibal, “The Cannibal”, Lecter a fim de obter algumas informações sobre o caso de Buffalo Bill, um outro serial killer que retira parte da pele das vítimas.

Preocupada em salvar as vítimas do esfolador, Clarice cede aos jogos mentais operados pelo ex-psiquiatra Hannibal, e com sua ajuda encontra o bandido. Posteriormente, formada com louvor, ganhou fama pelo feito heróico. Enquanto Lecter desaparece, fugindo para o exterior. Clarice não o teme por saber que ele considera o mundo mais interessante com ela nele.

Após sete anos da fuga de Lecter, Clarice torna-se uma pessoa mais fria, dura e confiante. As ações da agente nem sempre são bem recebidas e ela passa por uma fase difícil no trabalho. Enquanto isso, Lecter vive como curador de uma biblioteca em Florença sem saber que um ex-paciente e vítima, Mason Verger, trama uma cruel vingança usando Clarice como chamariz. Com a cabeça a prêmio, Lecter desperta o interesse do ambicioso Inspetor Pazzi. É dada a largada da caçada ao canibal.

Pazzi não tem sucesso em entregar Lecter (que está sempre um passo à frente dos inimigos), e é morto: “Faço da minha casa a minha própria forca”. O desfigurado Verger é também morto em seu próprio plano de vingança. Em uma união antropofágica, Clarice e Hannibal têm seu último encontro. A tensão é sexualmente carnal. Ela une-se não intencionalmente a ele e Lecter escapa outra vez. O destino de Clarice não é possível de deduzir, mas é possível que os carneiros continuem gritando.

Créditos: Rodrigo Oliveira.
Créditos: Rodrigo Oliveira.

Os filmes

Atrizes diferentes atuando em filmes com produções idem e uma lacuna de 10 anos entre eles. Isso, com certeza, modifica muito a essência inicial da personagem. Jodie Foster foi agraciada com o papel da primeira Clarice a aparecer nas telonas em “Silêncio dos Inocentes”. O filme é muito aclamado e entrou para o hall dos clássicos recebendo 5 estatuetas do Oscar: Melhor Filme, Melhor Atriz (Jodie Foster), Melhor Ator (Anthony Hopkins), Melhor Diretor (Jonathan Demme), e Melhor Roteiro Adaptado (Ted Tally). Já Julianne Moore interpretou em outras circunstâncias, produzindo uma Clarice muito díspar da original, o que gerou críticas ferozes à atriz. Acredito que, dentro de cada proposta, as duas foram ótimas. Vamos checar as diferenças:

Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991)

Na minha opinião, a melhor Clarice: verdadeira, esforçada, perspicaz e a sua relação com Hannibal é mais pura e visceral. A cumplicidade entre os dois é o foco, e, diferente de “Hannibal”, ela não o está caçando, pois precisa dos seus conhecimentos. A relação de discípula e mestre é bem representada em seu último encontro em uma simbologia com a obra de Michelangelo, “A Criação do Mundo”. O toque dele deu a inspiração necessária a ela.

Já no primeiro encontro, Lecter instiga Clarice criticando seu modo simplório de ser e vestir. Ela teve a coragem, mesmo aparentemente nervosa, de encará-lo e dizer que ele deve se auto-analisar. Essa audácia, misturada à vulnerabilidade aparente, atraiu a atenção do psicopata que usa o seu “quid pro quo” para descobrir mais sobre essa garota tão forte e cercada de demônios pessoais.

Convivendo em meio a homens machistas e indelicados, ela vê em Lecter um verdadeiro cavalheiro, capaz das piores atrocidades, mas de modo refinado. Ela começa a entender seu modo de agir, tão diferente de outros serial killers. O senso de justiça de Clarice, explicado pelo passado triste, faz com que ela ignore os conselhos de Crawford, seu mentor no FBI, e ceda aos jogos mentais do ex-psiquiatra a fim de salvar as vítimas do assassino Buffalo Bill.

Enquanto o olhar de Lecter é penetrante e incisivo, o de Clarice tem compaixão e verdade. Por transmitir tão bem o que sente, essa personagem se torna tão humana para o espectador. Ela não é uma super-heroína, é uma policial extremamente dedicada ao trabalho e uma mulher simples, bonita e forte, que precisa provar seu talento em um meio dominado pelos homens.

Hannibal (Hannibal, 2001)

Já não existe mais tanta repressão, sensibilidade e inexperiência em Clarice, quem vemos agora é a policial dura, sensual e um tanto quanto estereotipada. A relação com Lecter não é mais espiritual, é carnal. Ela está o caçando, não precisa mais de sua sabedoria.

O filme gira em torno dessa caçada e eventuais mortes sangrentas. Clarice já não é mais a estudante do FBI, e pela fama conquista com o caso de Buffalo Bill, a agente especial detém a atenção da mídia. A responsabilidade de estar nesse cargo é muito grande e a pressão também. “Fui eleita pelo Guiness Book como a agente do FBI que mais matou em campo”, ela diz. Dividida entre ações mal-sucedidas e a pressão da mídia, Clarice ainda precisou lidar com o fantasma de Hannibal Lecter e a angústia por ainda não o ter encontrado.

Como passou quase todo tempo investigando, ela compreendeu o modus operanti de Lecter e saiu a sua busca. Nessa ocasião, o contato físico entre eles é muito maior. Lecter demonstrou-se mais ousado e Clarice mais confiante. Parece que, sem querer, Clarice compartilhou com Lecter e o ajudou em várias situações, como em uma cumplicidade de parceiros de crime. Foi por esse motivo inclusive, que Jodie Foster não aceitou o papel da agente. O criador de Clarice, o escritor Thomas Harris, deu à personagem um rumo inesperado e o diretor Ridley Scott acrescentou um alto teor de violência ao filme. Sobrou para Julianne Moore participar dessa seqüência que gerou grande renda nas bilheterias, mas, infelizmente, atribuiu um destino revoltante para uma grande personagem do cinema.

 

Descrição das características das cartinhas R-files (versão resumida):

Aparência: Essa característica diz respeito a quanto o visual do personagem é agradável.

Carisma: Mede o nível de simpatia natural do personagem.

Carma: Define o nível de benevolência do personagem, se ele é bom ou mau.

Humor: Classifica o personagem em otimista, feliz, alegre e bem-humorado ou o contrário.

Inteligência: Mostra o nível de conhecimento empírico e científico do personagem.

Moral: Essa característica é definida pelo apego e respeito do personagem às leis e regras da sociedade.

Violência: Qualifica o personagem em níveis de pacifismo ou agressividade.

Observações: Definimos essas categorias para poder classificar de maneira mais profunda os personagens. Um personagem bonito pode ser malvado e não carismático, mas pode seguir às leis e regras para fazer o mal (um advogado, por exemplo). Bem como pode ser pacifista, bem-humorado e inteligente.

Uma análise de Dr. Brown, da trilogia De Volta para o Futuro

Em 2009, passei por um concurso e tive a incrível oportunidade de ter uma coluna só minha no extinto blog do Portal Cinema com Rapadura. Hoje, o portal completa sete anos no ar, sempre atualizado, com reportagens e um podcast  interessantíssimo sobre a sétima arte, o Rapaduracast. O portal cresceu muito e eu tenho muito orgulho de ter feito parte dessa história. Na minha coluna, analisava personagens queridos e odiados nas telas. Escolhi o Dr. Brown por ser um dos que mais gosto, e porque o Cineclube Lanterninha Aurélio exibe hoje “De volta para o futuro”. Leia mais e compareça. O cartaz ficou lindo!

De Lorean, Marty McFly e Dr Emmett Brown estarão no Lanterninha nesta segunda, e, aqui, mais um pouco sobre o cientista louco mais clássico do cinema:

#03 R-Files – Doc Emmet Brown

 “Sabe aquele personagem? Daquele filme? Aquele que o cabelo era meio assim… Tinha uma roupa preta… Como é mesmo o nome? É um dos meus preferidos, sabe?”

 A coluna R-Files remexeu os empoeirados arquivos do Cinema com Rapadura para relembrar os personagens mais marcantes e os não tão lembrados da história do cinema. De lambuja, as cartinhas R-Files são uma ótima maneira de colecionar os seus preferidos e jogar.

Demorou, mas mais uma edição do R-Files chegou! De Volta para o Futuro é uma trilogia que marcou os anos 80 e até hoje ganha admiradores e aficionados. Quem não quer um DeLorean (mesmo em miniatura)? Quem já não desejou viajar no tempo? A Sessão da Tarde era muito mais divertida com Dr. Brown e Marty Mc Fly.

O personagem escolhido para esta quinzena foi sugerido pelo leitor Luis Fernando. Obrigada e continuem sugerindo nomes, o seu personagem preferido pode aparecer aqui.

“Eu vejo desse modo: se você vai construir uma máquina do tempo em um carro, por que não fazer com estilo?”

Dr. Emmet Brown, em De volta para o futuro – parte 1

(Back to the future part 1 – 1985).

Aviso: o texto abaixo contém revelações (spoilers) sobre o enredo do filme em que o personagem participa.

DOUTOR EMMET LATHROP BROWN

Cartinha do personagem. Crédito: Rodrigo Oliveira.

Nascido em Hill Valley, em 1920, Dr. Brown é o cientista e inventor responsável pela criação do capacitor de fluxo, que possibilita viagens ao passado e futuro. Seu companheiro é o jovem Marty Mc Fly e também, o fiel amigo e cobaia, o cachorro Einstein. Em uma de suas viagens, Dr. Brown conhece a bela professora Clara Clayton, com quem tem dois filhos, Júlio e Verne, batizados em homenagem ao autor que o inspirou a dedicar a vida à ciência e o aproximou de Clara.

O PERSONAGEM

O quarto improvisado na garagem já dá várias pistas sobre a personalidade do morador. Relógios-cuco dos mais diferentes materiais e cores possíveis rodam sincronizados enquanto geringonças preparam o café da manhã, até para o cão Einstein, nomeado em uma homenagem ao físico alemão e um dos grandes inspiradores do habitante da casa. A confusão de caixas e circuitos é o lar de Dr. Emmet L. Brown.

As roupas excêntricas, como os robes laranja ou estampados que saem de casa e ocupam a rua sem problemas, e os olhos sempre vidrados, enérgicos, refletores de uma mente fértil e incansável fazem dele um tipo bem estranho. O cabelo arrepiado e os gestos amplos dão o toque final do estereótipo do cientista maluco e fazem com que grande parte da cidade o veja como estranho e solitário. “Dr. Brown anda como se conduzisse a orquestra do mundo”. [1]

Dr. Brown tem o pensamento lógico e racional predominantes, próprios de quem credita aos fatos científicos a verdade de tudo. A obsessão pelos relógios e pelo tempo são algumas provas de como seu pensamento se organiza de forma matemática. Apesar de todas as peculiaridades, tem um alto poder de observação e compreensão das interações sociais e uma personalidade sensível que valoriza amizades acima de tudo, até mesmo da ciência. A sua relação com o adolescente Marty McFly é de compreensão e preocupação mútua e vai se fortalecendo devido aos percalços que a dupla passa. O jeitão de alienado esconde um belo coração.

Até constituir família com Clara, ele é mesmo um quase-solitário e Marty e Einstein cumprem a função de família. Quanto às origens, pouco se pode afirmar sobre os ancestrais do cientista. Sabe-se que os primeiros parentes eram possivelmente originários do Império Austro-Húngaro, tendo o sobrenome de Von Brauns modificado para Browns em decorrência da Primeira Guerra Mundial. Eles chegaram a Hill Valley por volta de 1908.

Talvez dos ancestrais tenha se originado o seu bordão “Great Scott!”, na tradução “Santo Deus!”. Na verdade, não há um consenso sobre a origem da expressão, mas uma das teorias é de que imigrantes alemães, da Baviera ou Áustria, costumavam usar a saudação “Grüß Gott” que foi sendo traduzida para “Great Scott” mesmo que o som não lembre nem um pouco a sua raiz. [2] Segundo afirmação do etimologista John Ciardi, o Príncipe alemão Albert de Saxe-Coburgo Gotha usava muito essa expressão e, na tentativa de imitá-lo foi surgindo essa tradução bizarra. Essa teoria foi refutada pelo próprio autor em 1985, ano de lançamento do primeiro filme da trilogia De Volta para o Futuro.

Outra possibilidade é de que a expressão seja americana, surgida pela época da Guerra Civil, em que o General Winfield Scott (1786-1866) do exército dos EUA foi descrito em revistas da época e em diários de soldados como o Grande Scott, em alusão ao seu peso. “Great Scott” aparece também nos gibis do Superman, e na série Heroes, dita, eventualmente, pelo personagem Hiro Nakamura em referência ao Dr. Brown. Ou seja, Dr. Brown usa “Great Scott” porque aprendeu com os pais, na rua, ou é um fã de quadrinhos mesmo, como todo bom nerd.

Em 1920, nasce o bebê Emmet. O menino conhece, 11 anos depois, as obras do escritor francês Júlio Verne. Considerado o pai da ficção científica, Verne foi visionário ao prever viagens à Lua e máquinas como o submarino. Começa aí sua fascinação pela ciência, e inspirado por Viagem ao Centro da Terra (1864), o pequeno Emmet tenta executar uma viagem ao centro da Terra de verdade. Não é difícil presumir que muitas outras experiências foram tentadas pelo pequeno cientista. Se criança já é curiosa, imagina um leitor de Júlio Verne?

A vida de Emmet nos anos que se seguem foi, provavelmente, ligada à ciência. Há algumas especulações sobre em que ele trabalhou. É possível que tenha trabalhado no Projeto Manhattan (que desenvolveu a primeira bomba atômica), nos anos 40, e/ou na Universidade da Califórnia e/ou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, como professor de física. [3]

Década de 50 – Uma grande idéia e um garoto do futuro

Ainda vivendo na mansão da família, na Riverside Drive, com o seu cachorro na época, Copérnico, Dr. Brown, em uma corriqueira ida ao banheiro, caiu no chão escorregadio e bateu a cabeça, tendo a idéia que revolucionará sua vida: o capacitor de fluxo, um instrumento que permite viagens no tempo. A data: 5 de novembro de 1955.

O que parecia mais uma idéia de um cientista com um fraco por invenções impossíveis, como o Analisador de Ondas Cerebrais, que permitia a leitura de pensamentos, tomou forma quando, nesse mesmo dia, Dr. Brown foi surpreendido por um garoto dizendo se chamar Marty McFly e vir do futuro. Ele teve certa dificuldade para acreditar, pois os fatos estão acima de tudo, segundo seu pensamento cientifico. Acabou cedendo, pois Marty dizia ser seu amigo e tinha algumas provas de que já o conhecia. Dr. Brown passou então a bolar um plano para levá-lo de volta para o futuro e alertou o garoto para que ele não interfira no passado, ou o futuro pode mudar drasticamente. Esquecendo dos conselhos do cientista, Marty salvou o pai de um atropelamento, fazendo com que sua mãe não o conhecesse e eles não se apaixonassem. Dr. Brown assumiu o papel de conselheiro e, enquanto planejava a volta de Marty, o ajudava a consertar a linha temporal para que ele não desaparecesse.

Antes de partir, Marty tentou alertar Dr. Brown sobre algo importante de seu futuro, mas ele se recusou e rasgou a carta que Marty havia colocado em seu bolso, pois sempre afirmava que não se pode saber muito sobre o seu próprio futuro. Ignorando seus códigos e confiando no amigo, um tempo depois, Dr. Brown colou os pedacinhos e ficou sabendo que morreria atacado por líbios, no mesmo diaem que Martysaiu de 1985, e se salvou usando uma proteção contra os tiros. O DeLorean partiu e o plano de enviar Marty de volta para o futuro foi um sucesso. A sua excitação por ter feito uma invenção que funciona realmente foi interrompida quando Marty apareceu correndo e pedindo ajuda, pois estava preso no passado. Dr. Brown não acreditou e desmaiou.

Como se não bastasse todas as novidades do dia anterior, Dr. Brown acorda com o garoto querendo lhe contar uma história e mostrando uma carta. Marty contou que o DeLorean com o Dr. Brown de 1985 foi atingido por um raio, enviando o cientista para o Velho Oeste, e que na carta, ele pedia para Marty pedir a ajuda de sua versão mais nova e encontrar o DeLorean que estava em uma mina, perto de um cemitério. Enquanto o Dr. Brown de 1955 procurava pela máquina, Marty vê o túmulo do amigo e o alerta. Se Marty não conseguir impedir que Dr. Brown se salve, sua existência seria apagada.

Década de 80 – O DeLorean alça vôo

Mais de 30 anos se passaram desde o escorregão de Dr. Brown no banheiro até a primeira viagem do DeLorean. Quase toda herança de família foi empreendida no projeto e um incêndio anos antes obrigou Dr. Brown a morar na garagem do casarão. O nome da rua também foi modificado, passando a se chamar John F Kennedy Drive, no número 1646, em homenagem ao presidente, uma troca muito comum na época.

Com o projeto da máquina do tempo quase pronto, Dr. Brown precisava de um combustível específico: plutônio. Para consegui-lo, prometeu a um grupo de terroristas líbios que construiria uma bomba e que um dos componentes era plutônio. Corajosamente, sem nenhum arrependimento futuro, Dr. Brown roubou o plutônio dos terroristas e lhes entregou “uma brilhante bomba preenchida com peças usadas de pinball!” [4]

Depois de testar o DeLorean com o cachorro Einstein e a experiência ser um sucesso, Dr. Brown fica eufórico, grita histericamente, e não é para menos. Dr. Brown realizou o sonho de muitos cientistas que, inclusive, são seus inspiradores. Nem Júlio Verne conseguiria descrever uma máquina assim e H.G. Wells tentou, mas quem deu vida à tão sonhada máquina do tempo foi ele. Os olhos arregalaram mais do que o comum quando mostrou para Marty o painel de datas e todas as possibilidades que eles teriam para viajar.

Mesmo detentor do grande poder de mudar o curso da história, Dr. Brown não usou a máquina do tempo para enriquecer, como o desprezível Biff fez, a sua vontade é poder compreender a humanidade e entender como se deu seu progresso. Por isso, a máquina do tempo é importante para ele, que sempre frisa a necessidade de não se alterar o passado e nem saber muito sobre o futuro. Seu bom caráter e a sua honestidade acabam se confundindo com ingenuidade. Seus únicos vícios são a ciência e os amigos, o que não o isenta de passar por situações perigosas.

Em 2015 – “Rodas?”

Depois de deixar Marty em casa, Dr. Brown resolve conhecer a maravilhas do futuro e programa o DeLorean para 2015. Mostrando-se vaidoso, uma de suas providências no futuro foi uma repaginação total, em que ganhou uma aparência mais jovem e uns 30 anos a mais de expectativa de vida. No futuro, também repaginou o DeLorean que passou a ser ambientalmente correto e usa a energia do lixo comum como combustível. Sem esquecer os amigos, ao saber que algo terrível aconteceria com o filho de Marty no futuro, Dr. Brown volta para 1985 para alertar o garoto.

Sem pensar se alguém os veria, Dr. Brown colocou Marty e a sua namorada Jennifer no carro e retornou ao futuro. O cientista sentiu-se muito responsável pela máquina do tempo e pelo futuro dos que serão modificados por ela. Prometeu a si mesmo que destruiria o DeLorean assim que voltasse com Marty para 85.

O vilanesco Biff rouba um almanaque de esportes que poderia torná-lo rico e, usando o DeLorean sem o consentimento de Dr. Brown, entrega para ele mesmo no ano de 1955, fazendo com que a história sofra uma nova alteração, em que o cientista será internado em um manicômio, sob a acusação de insanidade. Uma versão não oficial da história defende que o Biff jovem foi alertado sobre a possível intromissão de Dr. Brown nos seus negócios e, usando de seu prestigio, teria ordenado que prendessem o cientista no manicômio.

Para reparar essa terrível história, Dr. Brown e Marty voltam para 55 e o Doutor faz alguns reparos no circuito do DeLorean. Acaba encontrando com ele mesmo na Torre do Relógio, fazendo as preparações para a partida de Marty na sua primeira visita a 55. Claro que o Dr. Brown do futuro escondeu-se para que a sua outra versão não o reconhecesse, pois acreditava que poderia promover um paradoxo temporal com o encontro. Vale lembrar que Dr. Brown não se acovardou perante o trabalho físico mais pesado, pois montou toda a estrutura para captar o raio e consertou o DeLorean várias vezes.

Quando tudo estava resolvido, com o Manual recuperado e o DeLorean reparado, era hora de voltar para casa, mas Marty não conseguiu embarcar a tempo, pois o carro e seu passageiro, Dr.Brown, desapareceram depois de serem atingidos por um raio. Sem esperanças de que seu amigo tivesse sobrevivido, Marty ficou comovido. Dr. Brown, sabiamente, enviou uma carta para o amigo que o tranqüilizou e instruiu para que procurasse o seu eu de 1955 para ajudá-lo a voltar para casa.

No Velho Oeste – O Doutor sabe dançar

Com a idade, Dr. Brown ganhou experiência, foco e seriedade, sem perder suas características essenciais. No entanto, a maior mudança foi sua viagem acidental para o Velho Oeste, sua época histórica favorita. Lá, ele enfrentou o valentão Tannen sem pestanejar, foi sociável com os vizinhos, não era mais visto como o cientista louco, e principalmente, apaixonou-se. Para quem acreditava não haver racionalidade cientifica no conceito de amor à primeira vista, conhecer Clara foi uma violação a todas as leis da física.

A delicada professora despertou o lado príncipe de Dr. Brown, que sem pestanejar, a salvou de cair no precipício em que ela morreria, alterando o continuo espaço-tempo. No Velho Oeste, Dr. Brown mostrou seu lado mais divertido, quase um pé-de-valsa conduzindo a bela Clara na festa da cidade, como perfeito cavalheiro, romântico e gentil. O amor à primeira vista foi correspondido, sem que ela pestanejasse. O par romântico compartilhava o mesmo gosto pela ciência, pelas estrelas e por Júlio Verne.

Dividido entre a razão (pois precisava ir embora com Marty) e a emoção de viver com seu grande amor, Dr. Brown cedeu à emoção e, talvez, pela primeira vez tenha entendido que o futuro não está escrito, é construído de acordo com nossas escolhas e que é preciso viver de acordo com o seu coração, que é o verdadeiro pai da ciência. Dr. Brown talvez não tenha descoberto só a máquina do tempo, mas, sim, a máquina humana, a qual havia dedicado grande parte da vida tentando entender.

REFERÊNCIAS

[1] Bob Gale, roteirista e produtor da trilogia, em referência ao maestro Leopold Stokowski, em que Christopher Lloyd se inspirou para compor a personagem.

[2] http://www.worldwidewords.org/qa/qa-gre4.htm. World Wide Worlds. Acessado em: 31 de maio de 2009.

[3] Robert Zemeckis, co-roteirista/diretor da trilogia.

[4] Dr. Emmet Brown em “De Volta para o Futuro parte1”

 

A TRILOGIA NO CINEMA COM RAPADURA

De Volta para o Futuro 1 http://www.cinemacomrapadura.com.br/filmes/567/de_volta_para_o_futuro_(back_to_the_future_1985)

De Volta para o Futuro 2 http://www.cinemacomrapadura.com.br/filmes/569/de_volta_para_o_futuro_2_(back_to_the_future_part_ii_1989)

De Volta para o Futuro 3 http://www.cinemacomrapadura.com.br/filmes/573/de_volta_para_o_futuro_3_(back_to_the_future_part_iii_1990)

RapaduraCast 111 – Trinca: De Volta para o Futuro

http://www.cinemacomrapadura.com.br/rapaduracast/?p=2818

Camiseta Hoverboard

http://www.rapadurashop.com.br/camiseta-hoverboard.html

 

Descrição das características das cartinhas R-files

OBS: A numeração no canto superior da cartinha refere-se à classificação do personagem de acordo com as categorias (no personagem desta edição, a identificação da cartinha é B1):

A – Mulheres em filmes live-action;
B – Homens em filmes live-action;
C – Homens ou mulheres em animação 3D ou desenho animado;
D – Crianças e adolescentes (até 18 anos aproximadamente) de qualquer sexo, em qualquer meio;
E – Animais (inclusive insetos e aracnídeos) em filmes live-action, animação 3D ou desenho animado;
F – Monstros, fantasmas, extraterrestres e robôs em qualquer meio;
G – Objetos, plantas, partes do corpo, seres encantados, seres fantásticos, localidades, comidas, bactérias, vírus e demais seres não especificados e que não se encaixam em outras categorias.

Aparência: Essa característica diz respeito ao visual do personagem, se ele é feio ou bonito. Quanto mais bonito, mais amendoins o personagem terá na carta. Um exemplo de personagem com alto nível de aparência é a femme fatale Jessica Rabbit de “Uma Cilada para Roger Rabbit”.

Carisma: Diz respeito ao quão simpático o personagem é, ou seja, o quanto as pessoas que se relacionam com ele se cativam sem motivo aparente, não importando seu comportamento ou aparência.

Carma: Aqui é analisado o quão benevolente o personagem é, independente das regras, necessidade ou circunstância, o carma é relativo ao bem. Quanto mais bondoso um personagem for, mais pontos de carma terá, sendo que um carma neutro fica em 5 pontos.

Humor: O humor é a característica que define se o personagem é conhecido por ser alguém feliz e/ou alegre ou se é triste e/ou depressivo. Personagens positivistas, que querem curtir a vida e incentivam outros a fazer o mesmo têm mais pontos de humor do que personagens pessimistas. O humor não interfere no carisma, pois um personagem pode ser mal-humorado e ainda sim ser carismático.

Inteligência: A inteligência define a capacidade do personagem em aprender e compreender o ambiente e outros personagens e agir de acordo. Também é definida pela formação intelectual e cultura do personagem, bem como conhecimentos de ciência, tecnologia, história, entre outros.

Moral: Essa característica é definida pelo apego do personagem às leis e regras de seu universo e o quanto ele as segue e respeita. A diferença entre esta característica e o Carma são os meios que usa para os fins. Um ladrão que rouba para ajudar aos pobres tem moral baixa, mas carma alto.

Violência: A violência define o grau de pacifismo do personagem e sua agressividade. Personagens pacíficos que preferem resolver problemas de forma civilizada têm níveis de violência mais baixos dos que preferem partir pra porrada.

Observações: Definimos essas categorias para poder classificar de maneira mais profunda os personagens. Um personagem bonito pode ser malvado e não carismático, mas pode seguir às leis e regras para fazer o mal (um advogado, por exemplo), bem como pode ser pacifista, bem-humorado e inteligente.